terça-feira, 25 de outubro de 2016

The Purgatory: The Companion

"Eu nunca estive nesse lugar" Pensei olhando toda a estação de metrô. A estação era no subsolo e não havia mais ninguém ali. "As pessoas andam se comportando" Pensei revirando os olhos. Sentei em um dos bancos e apertei a alça da mochila, abaixei a cabeça e me perguntei "Como cheguei até aqui?"


R: Oi, você é a Lara, né? 
L: É sim. - Levantei rapidamente e observei o garoto. Ele deveria ter 20 anos no máximo, era cheio de sarnas e sorria como se ali fosse um bom lugar para está. - Eu te conheço? 
R: Não, mas eu te conheço, e preciso perguntar: Você foi mesmo ao inferno duas vezes? - Ele me olhou e pude ver as expectativas soltarem dos seus olhos. 
L: Sim... Mas como você sabe disso? 
R: Todas as pessoas de todos os reinos sabem disso! - Ele afirmou e senti banalidade no seu tom de voz. 
L: Todas? De todos os reinos? - Falei sem entender nada. 
R: Sim, todas! - O metrô parou na estação e abriu as portas, o garoto me pegou pelo braço e me puxou para dentro do vagão - Vamos, não podemos perder o metrô, só passa outro daqui a uma hora e.. 
L: Você pode largar meu braço? - Olhei o vagão completamente vazio e sentei - Parece que as pessoas andam se comportando, né?! Estou aqui sozinha... 
R: Não, isso não tem nada a ver. Não é para ter mais ninguém aqui mesmo, só você e eu, o seu Acompanhante. Raabe, muito prazer! - Ele estendeu a mão direita para aperta-la formalmente. 
L: Meu Acompanhante? Do quê? Para quê? 
R: Sim, eu acompanho as pessoas nessa viagem, meu papel é ouvi-las, conforta-las e dizer que nem tudo está perdido. Eu sirvo para enchê-las de ânimo. - Ele falou orgulhando-se muito do cargo - Quando vi sua ficha e soube que vinha para cá, eu quis acompanha-la, você deve ter historia interessantes para contar! - Ele sentou do meu lado e me olhou com aquele olhar de expectativas novamente. 
L: Eu não tenho nada para contar. Eu estou aqui, não é?! Deu tudo errado de novo. Eu perdi. 
R: É eu soube... E olha, vai ficar tudo bem, viu?! - Ele falou meio desajustado. 
L: Raabe, né?! Então, olha só, eu sei que é seu papel e tal, mas EU SEI QUE NÃO VAI FICAR TUDO BEM, TÁ?! - Gritei e gesticulei tentando sendo clara. 
R: Não! Mas vai ficar mesmo! Você é... 
L: Raabe?! Pare, por favor, eu não quero conforto, sabe?! Não quero ninguém me dizendo que está tudo bem ou que vai ficar. Eu só quero viver tudo isso aqui, na minha, quietinha. Beleza? 
R: Mas eu sou seu Acompanhante! Eu preciso te ouvir, te ajudar! É uma fase difícil, eu sei, já vi milhões de pessoas passarem por aqui, não é nada fácil está lá. 
L: Raabe?! Você conhece a minha historia? 
R: Sim! TODA! Você foi ao inferno duas vezes! Não conheço ninguém que tenha saído vivo de lá, imagine ir duas vezes! 
L: Então... Eu fui ao inferno. Sério que eu preciso de consolo ou acha mesmo que eu quero falar sobre mim? - Ele me olhou e desta vez eu vi piedade nos seus olhos - É uma fase realmente difícil, eu só quero esperar em paz. 
R: Bom, mas o que eu vou fazer aqui então? 
L: Que tal me contar como você chegou até aqui? Afinal, a minha historia você sabe, né?! Mas eu não sei a sua. 
R: A minha? O que falar? - Ele fez cara de confuso - Eu sou um anjo de 326 anos. Antes eu cuidava da papelada toda das pessoas que subiam e descia, mas acabei sendo transferido para cá, precisava trabalhar em campo. 
L: Você é um anjo novo. E você curte ser Acompanhante? 
R: Todos acham um tédio, vejo meus amigos reclamando um monte, mas eu até gosto, acho divertido. Ontem vi com uma senhorinha que nem queria passar por aqui, ela queria ir para o inferno mesmo, disse que tinha consciência de tudo que fez na vida e que não se importava. Ela me contou historias incríveis, e no final da viagem, disse que tinha certeza que ela só ficaria aqui por um tempo e que eu achava que ela ia para o céu... Ela só acha que vai para o inferno por xingar muito. - Ele falou quase sussurrando - Ninguém vai para o inferno por isso. 
L: Muitas pessoas vão para o inferno? 
R: Sim. Mas, de tudo que já vi por aqui, não acho que você vá. Você, praticamente, trabalhar com o Cara da Roda Gigante. 
L: Nós nem temos nos falado mais. Talvez por isso que eu esteja aqui, afinal. 
R: Você acha que ele te abandonou? 
L: Não. Eu que o abandonei. - Ficamos em silêncio por uns vinte minutos e eu comecei a observa-lo. 
R: Eu iria falar que Deus nunca abandona ninguém, mas você afirmou que foi você que o abandonou. Eu não sei o que te dizer. Não se tem muito que dizer para uma pessoa como você. 
L: Uma pessoa como eu? O que dizem sobre mim? 
R: Bom, eu não sei se eu posso contar... - Ele levantou e colocou a mão na cabeça - Geralmente, as pessoas que falam sobre elas, eu nem falo nada de mim, as pessoas não entendem, sabe?! - Ele sussurrou mais uma vez - Olha só, já estamos chegando - Ele apontou para fora da janela e puder ver um túnel - Acho que é o momento de me despedi, eu só te acompanho até aqui - Entramos no túnel e as portas do metrô se abriram - Bem, é aqui. 
L: Obrigada, Raabe - Falei me levantando e olhando para fora - Foi um prazer te conhecer e... - Ele se aproximou e me abraçou com força. 
R: Eu quero que saiba que estou torcendo por você e que não importa o que diga, vai ficar tudo bem - Ele me saltou e pude ver o olhar de piedade brotarem nos seus olhos. 
Sair do vagão e logo ele sumiu no túnel. Essa estação também era no subsolo e estava vazia. Caminhei até a escada, subi e caminhei até a seguinte placa:

Continua...

Nenhum comentário :

Google Analytics Alternative